
Viver plenamente o Sacramento do Matrimônio implica um cuidado e esforço cotidiano por parte de toda a família, principalmente por parte dos cônjuges. Marido e mulher deverão abdicar muitas vezes de suas vontades, refreando impulsos e decisões precipitadas, a fim de priorizarem a paz e a harmonia do lar. Ambos devem buscar atitudes concretas que os ajudem a cumprir sua missão. Para que os cônjuges aprendam a crescer humana e espiritualmente as ENS propõem seis Pontos Concretos de Esforço: a escuta da Palavra de Deus, a meditação, a oração conjugal, o dever de sentar-se, a regra de vida e um retiro anual. Estes seis exercícios espirituais são um caminho de purificação e santificação familiar e um convite a entregar-se diariamente a Deus, dando respostas seguras e objetivas as questões familiares. Pode-se dizer com plena convicção que a prática dos pontos concretos de esforço preenche todas as lacunas existentes no seio familiar.
1 - A escuta da Palavra
A Palavra de Deus que no Antigo Testamento era passada na família de forma oral e algum tempo depois de forma escrita, toma no Novo Testamento seu verdadeiro aspecto na pessoa de Jesus Cristo, que se encarna e habita no meio dos homens (cf. Jo 1,14). Jesus, palavra viva e eficaz, conduz pessoalmente os homens ao Seu convívio, levando-os pela mão à aceitação e vivência do mandamento novo: “Que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei” (Jo 13,34). Após toda sua trajetória na Terra e sua ascensão, os Evangelhos nos são apresentados como itinerário de vida, seguindo nas mesmas pegadas de Cristo.
Escutar com constância a Palavra de Deus é um benefício concreto e eficiente que não pode ser descartado pelas famílias, pois é viver diariamente em contato com Cristo, vivo e presente em sua Palavra. Jesus fez muitos milagres utilizando-se somente da sua palavra, são vários os relatos, especialmente o caso da cura do servo de um centurião (cf. Mt 8,5-13), este confiou plenamente na palavra de Jesus, no seu poder de transformação, de levar o servo de uma realidade de dor e sofrimento para uma nova vida somente através da confiança no poder das palavras de Jesus: “Senhor, não sou digno de receber-te sob o meu teto; basta que digas uma palavra e o meu criado ficará são” (Mt 8,8).
Quantas famílias, ao contrário do centurião, não descobriram ainda este manancial de cura e libertação que está à disposição em suas casas, ou seja, a Palavra de Deus presente na Bíblia. Muitos lares até possuem bíblias, porém, muitas delas se encontram abandonadas sobre as estantes ou guardadas em armários e gavetas, empoeiradas e desvirtuadas de seu valor real. Tratada desta forma, a bíblia torna-se um livro qualquer, de leitura ocasional e situacional, porém, diferentemente de outros livros ela possui um valor primordial e transformador que precisa ser descoberto e valorizado pelos casais e famílias cristãs.
O engajamento nas ENS proporciona aos casais a valorização e o reconhecimento da Palavra de Deus através de sua vivência constante e diária, buscando nela força, apoio e confiança, suscitando uma transformação pessoal e firme no seguimento de Cristo e do seu Evangelho. Ao contrário do centurião que disse a Jesus que uma única palavra bastaria para curar o servo e que Jesus não precisaria ir até sua casa pelo fato dele, o centurião, não ser digno (Cf. Mt 8,8), os casais das ENS são privilegiados, pois Jesus Cristo se antecipou e já adentrou nas suas casas quando estes resolveram assumir plenamente o sacramento do matrimônio, aceitando livremente a proposta das ENS.
2 - A meditação
A Palavra de Deus para ser posta em prática diariamente exige uma reflexão madura, pois ela opera milagres e é criadora: dá vida àqueles que se abrem à sua virtude, faz surgir a alegria no lar [1]. O coração ao acolher a Palavra de Deus deve meditá-la, ou seja, conscientizar a mente e o corpo para um diálogo franco e aberto com Deus. É colocar-se diante do Senhor, encontrando-O todos os dias, numa prece silenciosa [2], deixando que a inteligência entre em comunhão com a Palavra, levando a família à sua compreensão para que ela possa agir à luz desta mesma Palavra.
As pessoas e o mundo têm necessitado de silêncio. Não no sentido de não ouvir os pássaros ou o ruído do vento nas folhas das árvores, que podem nos falar muito de Deus na sua maneira de ser. Mas, silenciar no coração e na intimidade, que são perscrutados apenas por Deus. A fim de Alcançar as intenções do Senhor a respeito do que Ele quer de cada um de nós.
Sendo o homem e a mulher templo e habitação do Espírito Santo (1Cor 3,16), cada um é chamado a encontrar-se com este mesmo Espírito para “desenvolver a capacidade de escuta e de diálogo” [3]. É preciso encontrar-se com Deus para primeiramente ouvi-lo e depois de ter compreendido suas palavras respondê-lo, fazendo com que tudo seja renovado: forças, estímulo, esperanças.
A meditação é uma forma pontual de conhecer Deus na sua intimidade e também de auto-conhecimento, sendo a oração um reforço cotidiano disponível e gratuito, pois “onde falta a oração, tudo perece; onde há oração, tudo renasce, tudo amadurece” [4]. É justamente por esse motivo, que é pedido a todo membro do Movimento, que consagre um tempo à oração mental [5], cada dia, a partir do compromisso, no mínimo de dez minutos [6]. Tendo em conta os mil quatrocentos e quarenta minutos que se tem a disposição num período de vinte e quatro horas, não há como ter desculpas ou razões para dizer que não se encontrou tempo ou espaço para um encontro cotidiano com o Senhor. Assim os casais das ENS compreendem que “as Equipes, Movimento de espiritualidade, serão um Movimento de oração, isto é lógico!” [7]. É na oração meditada que a equipe se fortalece e se oferece a Deus, dedicando a Ele seu matrimônio e sua família.
3 - A oração conjugal
A oração conjugal é a obediência ao mandato de Jesus Cristo quando nos diz: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.” (Mt 18,20). Contemplar o rosto de Cristo através de sua Palavra é um grande privilégio, principalmente quando este dom pode ser vivido pelos cônjuges tornando-se uma verdadeira oferenda a Deus. Orações individuais e ao mesmo tempo comunitária, pois diante do Senhor aquele gesto torna-se partilha, sinal de unidade e de abertura para Deus e para o outro.
A oração conjugal requer tempo e dedicação, pois exige que o casal aprenda a orar em comum, colocando seus agradecimentos e súplicas diante do mesmo Pai, pedindo o auxílio do Filho através do Espírito. A oração feita dessa forma transforma a casa em Igreja Doméstica [8] e casa de oração, onde cada um dos membros toma parte e encontra seu lugar. Os novos tempos pedem mudanças, pois a oração familiar tem perdido espaço, e, em muitas famílias pais e filhos já não rezam mais juntos. Sabe-se que somente a oração não resolverá todos os problemas, ela é um auxílio espiritual, contudo, não se pode subestimá-la. O itinerário proposto pela ENS conduz o casal à descoberta da importância de oração em família, pois como nos lembra o Padre Patrick Peyton, “A família que reza unida permanece unida.” [9]. O mundo moderno tem necessitado desta união e de imediata reestruturação da família. A oração familiar é um passo muito importante e decisivo para que tal reestruturação aconteça, e a sociedade possa “respirar” com tranqüilidade.
4 - O Dever de Sentar-se
Outro grande instrumento que os casais das ENS têm a sua disposição é o diálogo conjugal, chamado aqui de “dever de sentar-se”. Pode-se até dizer, sem sombra de dúvida, que o diálogo pode determinar uma relação matrimonial. Ele é vital para a troca de idéias e solução de problemas, para o entendimento e harmonia dos cônjuges e da família.
No “dever de sentar-se” marido e mulher juntos colocam-se diante de Deus numa conversa franca, “encontrando, a cada mês, um tempo de verdadeiro diálogo conjugal” [10], apresentando um para o outro suas dificuldades, anseios e alegrias.
Na verdade, o “dever de sentar-se” torna-se uma conversa a três, pois Cristo encontra-se nela como grande mediador (cf. 1Tm 2,5) coordenando-a para que ambos, marido e mulher, saibam acolher com mansidão e humildade as necessidades e ou dificuldades de cada cônjuge. Por isso é que o “dever de sentar-se” deve se iniciar sempre com uma oração ou momento de silêncio [11]. No “dever de sentar” o casal se dá à oportunidade para se amarem ainda mais. Encontrando juntos caminhos e alternativas para um maior e melhor crescimento conjugal e familiar em todos os sentidos.
5 - A Regra de Vida
As ENS propõem ao casal que assumam atitudes que os ajude a preservar seu matrimônio. É no “dever de sentar-se” que o casal encontra alternativas para melhor vivenciar seu relacionamento conjugal. E para se conseguir esta meta, muitas vezes é preciso que os cônjuges abandonem certos costumes e hábitos que os impedem de crescer e chegarem uma maior e melhor vivência deste sacramento.
Assim, o “dever de sentar-se” sugere que cada um dos cônjuges assuma uma postura diferente, mude de atitudes e tenha continuamente coragem para isto. Que eles “concentrem seus esforços, para seguir melhor a sua direção de crescimento e responder com alegria ao apelo que o amor de Deus lhes dirige” [12]. A este esforço as ENS dão o nome de “regra de vida”.
A regra de vida é estimulo e vigor para manter sempre viva a chama do amor conjugal e familiar. Através de uma reflexão sobre todos os aspectos da vida, de forma a assumir concretamente um dever que ajude os casais a perseverar na vontade de Deus. Esta é uma grande prova de amor a Cristo, ao matrimônio e a família.
6 - O Retiro Anual
Diante das várias atividades, tarefas e pressões que Jesus se submetia durante o período que passou entre os homens, Ele sempre encontrava tempo para retirar-se e orar sozinho, como nos relata o evangelista Lucas: “A notícia a seu respeito, porém, difundia-se cada vez mais, e acorriam numerosas multidões para ouvi-lo e serem curadas de suas enfermidades. Ele, porém, permanecia retirado em lugares desertos e orava” (Lc 5,15-16). Percebe-se o quanto Jesus valorizava a oração e o quanto ela lhe era importante na sua relação de intimidade com o Pai. Mesmo Jesus Cristo tendo a consciência de que era o Filho de Deus, não negligenciou em nenhum momento a importância da oração e também sua prática individual e solitária.
Seguindo o exemplo de Cristo, as ENS convocam os casais a fazer, a cada ano, um retiro [13]. Que se afastem da correria e do ativismo diário, para recolherem-se em um lugar afastado e silencioso, deixando de lado toda ansiedade e preocupações para encontrar-se a Deus e entregar-se a Ele. É a circunstância adequada de marido e mulher proporcionarem-se “um tempo privilegiado de parada, de escuta, de oração e uma oportunidade de renovação espiritual” [14]. O retiro anual apresenta-se como que o “gás”, um impulso que dará bases sólidas ao casal durante todo o ano, a fim de que eles possam cumprir todos os Pontos Concretos de Esforço com fidelidade e amor, como o Movimento pede. O retiro é um convite a uma melhor escuta e entendimento da vontade de Deus. E se a vontade de Deus é compreendida, o matrimônio e a família se fortalecem.
[1] Responsabilidade das Equipes de Nossa Senhora. Apud CAFFAREL, 2006, p.116.
[2] GUIA das Equipes de Nossa Senhora. São Paulo: Nova Bandeira, 2003. p. 24.
[3] Ibid.
[4] Responsabilidade das Equipes de Nossa Senhora. Apud CAFFAREL, 2006, p.122.
[5] Á meditação também é conhecida como “oração mental” ou “oração interior”.
[6] Responsabilidade das Equipes de Nossa Senhora. Apud CAFFAREL, 2006, p.122.
[7] Responsabilidade das Equipes de Nossa Senhora. Apud CAFFAREL, 2006, p.123.
[8] É o tipo de lar onde “a família manifesta e realiza a natureza de comunhão e familiar da Igreja como família de Deus. Cada membro, segundo o próprio papel, exerce o sacerdócio batismal, contribuindo para fazer da família uma comunidade de graça e de oração, escola das virtudes humanas e cristãs, lugar do primeiro anúncio da fé aos filhos”. (cf. CIC, Compêndio, 1655-1658,1666).
9] Cf. A VIDA e Obras do Servo de Deus Padre Patrick Peyton, CSC: “O Padre do Rosário”
[10] Ibid.
[11] Ibid.
[12] GUIA das Equipes de Nossa Senhora. São Paulo: Nova Bandeira, 2003. p. 26.
[13] Ibid, p. 27.
[14] Ibid.
O presente texto é um trecho da Monografia "Equipes de Nossa Senhora: uma resposta as questões familiares." Do equipista e teólogo Valdemir Soares de Silva, da Equipe Nossa Senhora de Fátima – Setor Caicó - Rio Grande do Norte.
Fonte: ENS – Setor Caicó - RN
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